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2 de julho de 2014

Criança

Recebi uma redação da escola de volta, e nela havia uma anotação da professora auxiliar:
"Há um certo tom juvenil (que tem se tornado comum nos seus textos). O vocabulário, de tom coloquial, também ajuda a infantilizar o texto. Não sei se é intencional, mas se é não fica tão claro para o leitor. Pessoalmente, sinto falta dos seus primeiros textos (no 1º EM), sempre densos e surpreendentes..."
Posso te contar um segredo, Carol? Eu também sinto falta, e ao mesmo tempo não sinto. Gostava de escrever daquele jeito, e sei que meu estilo de escrita mudou. Eu mudei. Não foi de uma hora pra outra, não foi porque deu na telha, mas foi porque finalmente percebi a idade que tenho e onde estarei ano que vem. Eu vou fazer dezoito. Eu vou sair da escola. Eu vou começar a vida. E isso me amedronta.

Sempre tive muito medo do futuro. Tudo o que eu não tenho controle sobre me dá calafrios, mas mesmo assim também sempre quis chegar lá o mais rápido possível. Quando era criança, queria ser adolescente. Quando virei adolescente, quis ser adulta. Em menos de um ano serei, e nunca tive tanta vontade de voltar a ser criança, direto para o colo da minha mãe. Eu cresci muito rápido, deixei de aproveitar alguns momentos pensando no que viria depois, na independência, na liberdade. Agora que estou quase batendo de cara com esse tão esperado futuro, me recuso a abrir a porta.

Minha escrita reflete, ao mesmo tempo, quem eu sou e quem eu quero ser. Era uma criança querendo ser madura, agora sou uma semi-adulta (será que dá pra falar isso?) querendo voltar a brincar de boneca e se fantasiar de princesa. Meus textos podem ser prejudicados pelas minhas mudanças interiores, mas não acho que haja algo mais real e transparente do que mostrar quem eu sou por meio deles. Não existe uma máquina do tempo que possa me fazer voltar aos cinco anos e vivenciar tudo outra vez, mas existe a memória, que se torna concreta a partir do momento que é passada para um papel. Não é a memória de algo vivido, mas é a memória de sensações. Era simples. Era mágico. Era novo. Era fácil. 

Sinceramente? Uma hora cansa dar um sentido que não esteja explícito para cada palavrinha que eu escrevo. Quero escrever o que penso, o que sinto, o que desejo, e da maneira que me vem a mente. Não preciso de palavras rebuscadas para chegar ao ponto que quero chegar e, se não é minha vontade na hora, pra quê? Por quê? Pra você? Não... é pra mim. E se pra mim, minha escrita torna-se parte do que sou no tom coloquial, no palavreado infantil, é assim que será, pelo menos enquanto sentir que deve ser. Também sinto falta dos meus textos densos e surpreendentes. Mas estou bem com a simplicidade e leveza dos de agora, muito obrigada. 


2 comentários:

  1. Nossos textos têm que refletir quem somos, e os seus estão fazendo isso. Eu, particularmente, amei a forma como você escreve, é leve, sincera... Se isso te faz bem como você disse continue a escrever assim :)

    www.amantedemakes.blogspot.com

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    1. Bruna, fiquei feliz com seu comentário :) Não costumo gostar muito dos meus textos e muitas vezes deixo de mostrá-los às pessoas por causa disso... quando eu resolvo mostrar e alguém gosta, é muito gratificante! obrigada

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